Faz tempo que falar em Sophie Kinsella virou sinônimo de comédias românticas de sucesso. Ex-jornalista de economia, a escritora britânica é autora de best-sellers como “Os delírios de consumo de Becky Bloom”, “O segredo de Emma Corrigan”, “Fiquei com seu número” e muitos outros antes de “Te devo uma”, todos publicados no Brasil pela Editora Record.
Nesse livro, Fixie Farr é a protagonista de uma história de amor, lealdade e, claro, confusões. Aos 27 anos, ela ainda está tentando se encontrar no mundo depois de um negócio falido, pilhas de inseguranças familiares e anos de amor não correspondido. Conseguir se encontrar na vida adulta já é desafio o bastante, mas, justo quando as coisas parecem começar a se encaixar, sua grande paixão de escola volta para a cidade depois de abandonar a carreira em Hollywood.
Acontece que Fixie não consegue simplesmente deixar as coisas de lado. Se tem algo fora do lugar, ela precisa dar um jeito. Então, para colocar as emoções em ordem pelo reencontro com Ryan, ela acaba em um café, ajudando a salvar o computador de um completo estranho do desastre. É aí que entra Sebastian, o homem que, sem saber como agradecer, oferece um protetor de copo simbólico que garante: “Te devo uma”. Não que a própria Fixie pensasse em cobrar a dívida, mas Ryan anda desesperado por ajuda, por isso a necessidade de resolver a situação fala mais alto. Então, quando nada dá certo, nem mesmo o favor de Sebastian, é ela quem fica devendo uma, gerando uma troca de favores infinita que obriga Fixie a enfrentar um passado cheio de mágoas para abraçar o futuro que merece.
– Você acha que eu estou brincando. Mas não estou, não. Eu te devo uma, Fixie Farr. Lembre-se disso.
– Ah, pode deixar! Vou me lembrar disso.
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Quem disse que amadurecer é fácil?
O ponto forte do livro é a abordagem de assuntos comuns a todos nós. A protagonista começa como alguém comum, um pouco perdida na tentativa de se equilibrar nos altos e baixos da vida adulta, ainda que ignore a urgência de enxergar a si mesma com mais clareza. Ao dar o seu máximo para fazer com que a loja da família dê certo, Fixie anula os próprios sonhos, se deixa diminuir pelos parentes e ainda cai em várias confusões por causa da mania consertar qualquer coisa ao alcance.
O desenvolvimento é típico dos livros da autora, ou seja, cheio de boas risadas no meio de (des)encontros amorosos. Dá para ler tudo de uma vez em um fim de semana tranquilo, com a fluidez que só um livro leve consegue ter. Sem grandes surpresas entre os clichês das páginas, o destaque fica para os detalhes se somam para causar as mudanças de atitude da personagem, que começa um processo de empoderamento muitas vezes doloroso. Afinal, ninguém disse que amadurecer é fácil, disse?
Começo a pensar que eu talvez tenha tido sorte. Todos nós temos de enfrentar algum tipo de fracasso na vida, e eu passei pelo meu bem cedo. E me reergui. Aprendi que fracassar não significa que você é um fracasso, mas apenas que você é um ser humano.
Carisma, o ingrediente secreto
Se por um lado a história acerta em cheio no alvo da identificação do leitor, também peca pela falta de aprofundamento secundário. A maioria dos amigos e parentes de Fixie são superficiais, pouco carismáticos. Até o romance segue o mesmo caminho e, como resultado, fica difícil se envolver. A sensação é de que não dá para conhecer ninguém além dos flashes de personalidade que surgem de vez em quando no ping-pong de quem vai ficar com quem.
Em uma comédia romântica, especialmente uma de Sophie Kinsella, suspiros fazem falta. A paixão pelo enredo faz falta. Na ausência deles, “Te devo uma” consegue ser agradável, sim, mas perde a chance de encantar em um mar do óbvio. E aí, como se faz? Não faz.
FICHA TÉCNICA:
Título original: “I owe you one”
Número de páginas: 420
ISBN: 9788501117014
Formato: 15,3 x 22,6 x 2,3
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