Fazendo referência à história de Dante Alighieri e sua Beatriz, muitos obstáculos deverão ser ultrapassados para que haja a possibilidade de Gabriel e Julia terem seu verdadeiro reencontro. Será preciso lidar com inseguranças, erros do passado, traumas e uma constante ameça à carreira de um professor se envolvendo com uma aluna para que a felicidade finalmente seja alcançada.
Julia arregalou os olhos. Era uma emboscada. E ele parecia faminto.
— Por favor, não. Por favor, não… me machuque — choramingou ela.
Uma ruga se formou na testa de Gabriel. Ela estendeu as mãos e segurou o rosto dela com delicadeza, virando-o um pouco para que Julia encarasse seus olhos ousados e brilhantes.
— Nunca. – E com isso, colou seus lábios aos dela. Assim que eles se conectaram, pele com pele, Julia perdeu a capacidade de raciocinar e se deixou levar pela emoção. Nunca se sentiu tão viva.
Reynard, seja lá quem for, sabe fazer sua pesquisa. Com narração em terceira pessoa, o livro passa essa ideia de que ou houve uma preocupação muito grande com uma belíssima pesquisa sobre a cultura italiana ou o autor, no mínimo, está de alguma forma inserido nela a ponto de ser um grande entendedor do assunto. Só que a gente sabe que não é só um elemento positivo que segura um bom livro, né? A gente sabe.
A trama tem um caráter desconexo forte o bastante para praticamente sufocar os restantes. O fio da meada é perdido mais de uma vez, fazendo com que sejam feitas várias tentativas para desembolar tudo aquilo que vinha tristemente mal desenvolvido lá do início, mas, não surpreendentemente, essa manobra não funciona lá muito bem. O fato é que o livro é inegavelmente bagunçado e assim continua independentemente das ocasionais pequenas tiradas de foco do romance para qualquer outra coisa. Não adiantou “esconder” nada nas sombras das partes menos exploradas, porque a distração não foi suficiente.
É uma danada de uma bateção de tecla no início, quando os personagens são apresentados. Julia é uma mulher de 23 anos insegura, pálida, desastrada, tímida, virgem e que se apaixonou feito louca por um homem que acha que conhece e só viu uma vez na vida (?). Gabriel é um homem de 33 anos prepotente, mais experiente em tudo, que se vê e descreve como o que poderia ser encarado como a encarnação do própriao mal e não se lembraria do amor de sua vida nem se ela estivesse na sua frente (literalmente!). Na verdade, porém, o cara é só mais um preso no clichê de atormentado, blábláblá. Fala-se muito e pouco se faz para a provar a existência desse tal lado imperdoavelmente sombrio dele.
As respostas oferecidas soam muito mais como desculpas. O grande porquê de Gabriel não lembrar de Julia, só para citar um exemplo, é pobre, quase risível. E quando a relação dos dois finalmente engata… Nossa, é vai ficando difícil de encarar. Se separadamente eles já conseguem ser irritantes, juntos, Deus do céu, são a pieguice em pessoa. A garota é chamada de pérola cor de rosa, gatinha, coelhinha assustada, “uma flor prestes a desabrochar”… SOCORRO! Aliás, viver chamando Julia de Beatriz faz com que eu forme uma imagem nada saudável do amor de Gabriel. Minha concepção de romantismo anda dando tchauzinho de bem longe.
A história é falsamente aprofundada. Há horas em que chegamos até a grande profundidade daquele velho e nem tão bom assim nível batido do clichê, apenas isso. Só somos levados até coisas que poderíamos muito bem deduzir sozinhos. Contudo, quero que fique bem claro: não estou querendo aqui me posicionar contra os clichês. Estou apenas dizer que as voltas e a insana guinada de 360° jogadas no colo do leitor talvez fossem minimizadas (ou nem existissem) se o caso não fosse de tal superficialidade.
Lento, O Inferno de Gabriel não tem quase nada de sensual, quanto mais de erótico. Apesar de flertar com o tom poético, tem tropeços consideráveis. Para mim, o livro faz tanto sentido quanto “zumzumzum” causado por ele por aí.
7 Comments
Jacqueline Braga
19 de julho de 2013 at 21:59Oie Kim
eu tenho a maior curisidade em saber se quem escreveu esse livro foi um homem ou mulher.Apesar de imaginar que seja uma mulher, porque, néan…rs
Mas não me empolgo tanto pra ler, talvez por estar cansada dessa temática erótica.
Bjos
Denise (@dnisin)
20 de julho de 2013 at 23:12Eu li O inferno de Gabriel já tem um tempo e gostei muito. Me envolvi com os personagens e achei o romance bem construído, principalmente quando misturou com estória da arte e outras literaturas. O autor, ou autora, se aprofundou no tema e isso foi perceptível pra mim.
Estou lendo o segundo e é bem mais erótico e intenso do que o primeiro, mas igualmente viciante. Bom, eu acho né.
Bjs, @dnisin
http://www.seja-cult.com
D e s s a
21 de julho de 2013 at 22:31Ainda não li o livro, mas tenho bastante interesse.
E apesar da resenha, a vontade aumentou mais ainda, rs. Adoro clichês. 😡
vou dar uma olhada, quem sabe não sou do contra e goste? 😛
beijos
apenas-um-vicio.blogspot.com.br
Estela Pilz
22 de julho de 2013 at 02:17Oieee…
Como você não amou o livro????? O.O
Ahh eu amooo esse livro… Gabriel foi ao topo dos meus personagens favoritos. Estou doida pra ler a continuação…Bom, mas cada um tem uma opinião né…
Beijoss
TeLa
http://www.penseiraliteraria.com.br/
Fabrica dos Convites
22 de julho de 2013 at 03:25Estou intrigada com este livro e quero conferir tudo o que tenho lido sobre ele.
Bjs, Rose.
Ray Pereira
22 de julho de 2013 at 21:37Oieeeee, menina eu desisti desse livro hahahahhahaha Achei a leitura muito chata e enrolada. Li enquanto ainda era fanfic e não gostei. Sua resenha quase me convenceu a voltar a ler.
Beijos, @_RayPereira
http://porredelivros.blogspot.com.br/
Juliana Pires
25 de julho de 2013 at 03:26Eu adoro clichês, quando bem usado. Quando o autor tem talento para isso. Tenho sérios problemas com personagens virginais, não sei qual é o problema, de se ter uma personagem bem resolvida com sua sexualidade, tem sempre que ser as puritanas se apaixonando, por outro clichê, que é o milionário atormentado, garanhão, putz como eu tenha raiva desse tipo de enrendo, não me lembro de um que eu tenha gostado, e passo bem longe de títulos assim. E os apelidos arrrgh, que horror.
bjs