O que temos aqui, basicamente, é uma sonhadora. Alguém que perdeu o contato com a realidade. Quando ela pulou, pensou que provavelmente voaria.
O mais difícil de fazer em se tratando desse livro foi separar toda a minha questão pessoal da visão mais distanciada ou técnica, por assim dizer. Não, eu não tenho problemas com a temática de suicídio. Não, eu não tenho problemas com temas ligados à morte de qualquer maneira (quem lê o blog e me conhece um tiquinho que seja sabe). O que eu quero dizer exatamente? Que As Virgens Suicidas é cult, é intenso, é lindo… E não é para mim. Ao menos não no momento em que se deu nosso encontro; e demorou um pouco até que eu entendesse e superasse isso.
Com sua narrativa loucamente descritiva, seu amontoado de meias respostas e ritmo ora lento, ora estimulante, toda a complexidade do livro se mostra claramente quando a atenção é direcionada para seu caráter humano. Todo o seu mérito está no tratar da sociedade da época que, aliás, pouco mudou de lá para cá. Acredito que não seria exagero dizer que os demais pontos positivos são desdobramentos dessa característica belamente explorada.
Perguntas como quem eram ou como eram as jovens Lisbon não são completamente respondidas, e isso é bom. Muito, muito bom. O autor se manteve fiel aos narradores que de forma alguma poderiam conhecer plenamente as garotas (nem elas próprias se conheciam tão bem), usando isso para plantar uma espécie de sementinha da reflexão na mente do leitor. O bom crescimento da “semente” vai depender da disposição de cada um.
Foi necessário abrir mão da enorme vontade de simplesmente amar a leitura para finalmente conseguir enxergar do que ela se tratava. Resultado: uma experiência muito mais distante do que eu poderia desejar. O lado bom é que sou capaz de perceber a grandeza do que estava à minha frente, mas o ruim é que não posso trazê-lo para perto. As Virgens Suicidas, para mim, é como um breve toque de dedos quando o que eu desejava era um total arrebatamento de sentidos.
1 Comment
Olavo Cândido
10 de julho de 2013 at 01:23Conheço e gosto muito do filme. Primeira vez que leio uma resenha do livro, nunca tive espécie nenhuma de contato antes. Gostei de suas considerações, pretendo considerá-las.