Essa é uma daquelas histórias reais que a gente vê em programinhas da tarde na televisão e parece coisa de filme. A mulher que a viveu, a mesma que agora narra os acontecimentos nesse livro, descreve a si mesma como uma aventureira temerosa. E quer saber? Deve ser mesmo. Eu, pelo menos, não ouso duvidar depois depois da leitura de “Amor até debaixo d’água”.
— Ivan? E se o barco afundar?
— Eu já disse, apertamos o botão que ativa nossa localização por GPS, entramos no bote salva-vidas e…
— Mas… e se algo acontecer e nós… morrermos?
Ele me olha e diz, sem hesitar:
— Algumas pessoas morrem de velhice sem nunca ter vivido seus sonhos. Algumas pessoas morrem sem nunca ter amado. Isso é trágico. Nós dois vamos morrer um dia, isso é garantido. Se acontecer alguma coisa enquanto estivermos no mar, vamos morrer como duas pessoas apaixonadas numa aventura extraordinária. É um bom jeito de morrer.
Diante disso, me calo, concordo e me rendo.
Em terra, com empregos, responsabilidades e amigos distintos, existe uma diferença entre “eu”, e “você”, entre “sua culpa” e “minha culpa”. Mas tais divisões se tornam imprecisas quando levantamos âncora e seguimos em direção a um horizonte vazio, juntos numa embarcação um pouco maior do que uma banheira flutuante. A cada vez, antes de nos prepararmos para mais uma travessia, antes de atarmos nossa vida de um modo precário, temos de assumir um compromisso sagrado e tácito. Eu confio em você. Você confia em mim. Eu protejo você. Você me protege. Nossas vidas se entrelaçam inseparavelmente, e há uma fusão entre “eu” e “você” e “Gracie“, passando a existir somente “nós”. Nós somos uma única entidade flutuante, que luta para sobreviver.
Título original: Love With A Chance Of Drowning
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