Adeus, Por Enquanto é o mais recente romance de Laurie Frankel, também autora de O Atlas do Amor. Publicado nos Estados Unidos em agosto de 2012, o livro já rodou o mundo, sendo publicado em árabe, alemão, romeno e, claro, português e inglês.
Nesse segundo livro de Laurie, Sam Elling, romântico e ainda solteiro, infelizmente, é um gênio da cumputação que trabalha como programador em uma empresa de encontros on-line. Quando ele cria um algoritmo revolucionário capaz encontrar a alma gêmea de seus usuários, duas coisas acontecem: 1) Sam conhece Meredith logo em sua primeira tentativa com o software; 2) Sam acaba demitido. Aparentemente, o algoritmo funciona tão bem que depois de um tempo começa a gerar prejuízos.
A demissão, ainda que inesperada, não representa o fim para as crianções do programador. O tempo vai passando, o relacionamento com Meredith só melhora e fica mais profundo… E aí a avó da moça morre. Então Sam desenvolve um novo software, dessa vez capaz de criar uma projeção da avó de Meredith que responde e-mails e interage por vídeo exatamente como aconteceria se ela ainda estivesse viva. Assim nasce RePose, a empresa criada pelo casal para ajudar outras pessoas de luto. Só o que eles não imaginavam era um deles um dia precisaria se tornar usuário para continuar a vida sem o outro.
Esqueçam encontros on-line perfeitos. Sem nem mesmo tentar, sem nem mesmo decidir fazê-lo, na verdade, de algum jeito, Sam inventara a vida eterna. Não para você, porque você não ligaria, pois estaria morto. Para seus entes queridos, entretanto, Sam poderia manter você vivo e com eles para sempre. Isso não era imortalidade?
Acontece, de tempos de em tempos, de um leitor encontrar aquele livro. Aquele que o envolve de tal forma que não há como ou para onde escapar. Essa é, sem dúvida alguma, uma das experiências mais maravilhosas que um leitor pode ter, pois transporta você para dentro da história, permitindo que você a sinta pessoal, íntima, que acontece poucas vezes.
Adeus, Por Enquanto é um dos livros especiais que tive a alegria de encontrar. Ele pega um tema delicado como a morte, adiciona questionamentos humanos, reais, atuais, e amarra tudo com uma ágil narrativa em 3ª pessoa. Transforma o que poderia ser apenas uma boa ideia numa obra de tato, que mistura melancolia, tecnologia, tristeza, amor e esperança de maneira harmoniosa.
Há muito tempo, entender seu vizinho e fazer seu vizinho entender você pareciam coisas impossíveis. Então, talvez comunicar-se com os mortos fosse somente uma questão de tempo e evolução. Era uma inevitabilidade humana. Nasceu do amor. Então, talvez tudo que veio em seguida tivesse que acontecer com alguém. É só uma pena que tivesse que acontecer conosco.Em toda a história humana, desde aquela primeira pessoa que perdeu alguém até agora, não há ninguém que eu pudesse amar tanto quanto você.
Laurie consegue ir mostrando a complexidade de seus personagens aos poucos. Deixa algumas coisas sem solução claramente definida, coisa que, quando se olha atentamente, vê-se que é outro jeito de aproximar ainda mais a ficção da realidade. Usa e abusa de uma premissa inovadora de forma inteligente, sem tentar passar lição de moral, apenas apontado os fatos como se estivesse querendo dizer “Está vendo aquilo ali? Sim, eu sei que você não quer ver, ninguém quer ver, mas é o que acontece, então ao menos admita”.
— Todo mundo diz a mesma coisa. Mas não entendo a diferença. Nem sei o que as pessoas querem dizer com “de verdade”. Não sou só eu — todo mundo passa a maior parte do tempo com amigos virtuais hoje em dia. Todo mundo passa mais tempo no Facebook do que com pessoas, mais tempo clicando em perfis do que saindo, mais tempo jogando tênis no videogame do que tênis de verdade, e tocando guitarra no videogame do que guiterra de verdade. As redes sociais não são tão sociais assim. Na verdade, é isolamento. Na verdade, é ficar sozinho. Então ao menos eu não sou assim, certo? Ao menos eu tenho você.— Não. […] Você está sozinho, na verdade.
Adeus, Por Enquanto é poderoso. Invista, mas esteja preparado.
5 Comments
Fernanda Muniz
26 de março de 2013 at 19:15Gostei muito!
Estou muito interessada pelo livro.
Parabéns pela resenha!
Beijos!
Anônimo
28 de março de 2013 at 13:14Acompanho o blog a tempos,sempre fico animado quando você se apaixona assim por um livro,Kim. Esse já é leitura obrigatória!!!
Hortencia
28 de março de 2013 at 16:19Kim uouuu! Vou começar pelo final: que frase de efeito 'invista, mas esteja preparado'. Já sei que vou me emocionar muito lendo esse livro!
Achei bem interessante a proposta da autora de misturar tecnologia com sentimentos, não que seja algo inovador, pq muito já se tem com esse tema na literatura, filme e até na vida real, mas eu acho que a mensagem que o livro passa que me chamou atenção. Ainda não sei a mensagem até pq ainda não o li, mas meio que sei que tem uma coisa nele me chamando pra leitura hahaha.
Me parece que o Sam é o tipo de pessoa que faz de um tudo pro amor da vida dele não se magoar e ficar triste, tomando por exemplo a criação do RePose. Mas será que é válido criar softwares pra tudo ser mais fácil? Para não termos perdas? E para não sofrermos?
Hmm… Preciso ler!!
Bjos Kim e obrigada pela dica! =D
Lygia Netto
13 de abril de 2013 at 21:18Já de cara fiquei fisgada com a sinopse pela identificação com o protagonista (tbm sou formada em Computação). O livro me lembrou levemente de Minority Report, um filme com Tom Cruise, que mostra como certas "tecnologias" podem funcionar tão bem que acaba tendo "erros". Com certeza lerei. Obrigada pela resenha linda! 🙂
Beijos!
Lygia – Brincando com Livros
juliano cesar de oliveira
13 de junho de 2014 at 19:08Ótimo texto de resenha. Meus parabéns! Amei a maneira que vc usou para se expressar, me fez se interessar pelo livro….mas vc já leu o livro reverso… se trata de um livro arrebatador…ele coloca em cheque os maiores dogmas religiosos de todos os tempos…..e ainda inverte de forma brutal as teorias cientificas usando dilemas fantásticos; Além de revelar verdades sobre Jesus jamais mencionados na história…..acesse o link da livraria cultura…a capa do livro é linda ela traz o universo como tema.
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=78725243